“Cartas para Hélio Oiticica” é o título da nova exposição individual do artista Laercio Redondo na galeria. Nela, um grupo de trabalhos produzidos entre 1999 e 2021, compostos por obras de parede, objetos e um móbile, interrogam os resíduos modernos e a sua inscrição no tempo contemporâneo que habitamos.

São obras que criam relações entre objetos achados, como no caso dos trabalhos feitos a partir de pedaços de um piso modernista de linóleo encontrado por acaso em uma caçamba de restos de demolição em Estocolmo. O conjunto dessas obras é inquietante e exige atenção silenciosa, deslocando o espectador do fluxo autoritário das narrativas que resolvem depressa demais o problema da nossa localização temporal e do legado de um passado tão presente.

O piso que agora ocupa uma parede nos deixa assim sem chão, e é desse lugar incerto e instável que Redondo lança sinais a Hélio Oiticica e interroga a ideia de futuro a partir de uma recriação do célebre livro de Stefan Zweig, que agora não se pode mais abrir.

Conforme as palavras de Laura Erber, que assina o texto da exposição, “ao expor na parede da galeria os pedaços de chão no qual já não é mais possível pisar, Laercio Redondo mostra a fragilidade do solo em que foi construído o projeto de modernização. As Cartas a H.O talvez assumam aqui a função mediadora da experiência histórica.”

Laercio Redondo vive entre o Rio de Janeiro e Estocolmo e sua pesquisa envolve a memória coletiva e seus apagamentos na sociedade. Seu trabalho é frequentemente motivado pela interpretação de eventos específicos relacionados com a cidade, a arquitetura e representações históricas.